Cândida Pereira da Silva, chama o médico da porta. A senhora se levanta da cadeira de plástico. Caminha em direção ao consultório cinco no fim do corredor.
O médico a recebe com um sorriso no rosto. Pega a mão dela e lhe dá um beijo. Boa tarde, Dona Cândida. O gesto incomum do médico faz as velhinhas a espera suspirarem. Boa tarde, doutor Paixão. Segurando a mão dela, ele a conduz para dentro.
O cardiologista Roberto Paixão, sabia que a maioria daquelas velhinhas eram esquecidas pelo mundo. Sua intenção era trazer um pouco de alegria a elas. Quem não gostava eram homens e os jovens, que acreditavam ser esse o motivo no atraso das consultas.
Depois de uma conversa sobre amenidades e plantas, a consulta se inicia. Me diga, o que acontece? Tenho sentido algumas dores no peito doutor. Perto do coração? Sim. Algum formigamento? Às vezes, aqui no ombro esquerdo. Sente falta de ar? Sim, sempre que subo a entrada do meu prédio. Quantos degraus tem? Seis degraus. Cada dia, maiores. Muito bem! Vamos à maca.
Paixão conduz a senhora até o degrau para alcançar a maca. Como está se sentindo? Cansada. Ele realiza os exames e a ajuda a voltar a cadeira. Dona Cândida, vou pedir alguns exames. O coração parece um pouco cansado, mas acredito que ainda pode arder muita paixão, diz o médico sorrindo.
Ele entrega as guias e a leva a porta. Se despedem. Ele não sabe que aquele coração está cansado de tanto arder por paixão.