Dona Cândida morreu. Carregava consigo a chave em um cordão de ouro. Uma chave muito antiga, mais velha que a falecida. Ela não tinha parente, nem amigos. Esquecida por todos. Seu Humberto, quem chamou a polícia, quando o odor da morte chegou a sua porta.
Vou ao prédio. Daqueles antigos com apartamentos de 400 metros quadrados, sem zelador ou condomínio. Subo as escadas e toco a campainha do 21. Seu Humberto abre a porta, com um semblante de cansaço da vida. Explico que precisamos de documentos da senhora do 22. Ele me entrega a chave. Diz que os documentos estão na comoda.
Entro e vejo uma vitrola embutida em estante de madeira. O disco da Nara Leão está na agulha. A geladeira fede com o leite vencido. Sob fogão o arroz apodrece. Me sinto nos anos 50. Caminho em direção ao quarto.
Lá, diferente do resto da casa, volto ao seculo XIX. Cama vitoriana, guarda-roupa de madeira de lei e cômoda com espelheira. Vou a cômoda. Todas as gavetas, estão destrancadas. Abro todas. Na última, uma pasta de documentos e um baú trancado. Testo a chave. O baú se abre. Guarda a bailarina que dança ao som da polca e a foto do jovem Dimitri, como me revela no verso. Nada joia ou dinheiro, tampouco cartas.
Aos pés da falecida acomodo a bailarina em sua última dança. Coloco nas suas mãos sobre o peito, Dimitri. Cerro o caixão com seus tesouros. Guardo comigo a chave, de recordação.
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