Deixa a luz do céu entrar

luz do céu

Após as aventuras de El Burgo Ranero, parti naquela manhã nublada de sábado rumo a León. O caminho até Reliegos a 13 km de Burgo Ranero é uma reta sem fim margeando a estrada. Com uma monotonia verde e o cinza do céu, encontrei apenas uma mulher nesse trecho. Ela chorava quando passei por ela e acenei com a cabeça. Seu choro era de purificação, e a deixei envolta de seus pensamentos.

O céu anunciava uma chuva e eu tentava me distanciar dela. Um pouco antes de chegar na vila de Matamoros, a chuva torrencial me alcançou. Era tão forte que o poncho, que eu não havia usado ainda naquela viagem, que tive de me abrigar no beiral de uma casa. Após uns 30 minutos a chuva acalmou e prossegui viagem.

Cheguei perto das 13 horas na pequena vila de Villarente, há 13 km de León. Fiquei com receio de não encontrar albergue em León como ocorreu em Burgo Ranero, pois, era dia de final entre Real e Barça, e muitos peregrinos se adiantarem para chegar cedo e curtir o jogo.

O albergue estava vazio e eram camas e não beliches. Sai debaixo de uma chuva fina para comprar comida e voltei para o albergue. Tentei lavar minha roupa e não secou. Aproveitei para atualizar meu diário, fiz a leitura dos jornais locais e ver meus custos.

Na manhã seguinte parti rumo a León. O sol já se fazia presente. Enquanto caminhava, uma música da infância povoou meus pensamentos. Lembrava dela, mesmo a tantos anos sem escuta-la. Comecei então a cantar naquele caminho solitário, enquanto a luz do sol me banhava.

“Deixa a luz do céu entrar,
abre bem as portas do teu coração
e deixa a luz do céu entrar”

Cheguei a León por volta das nove da manhã. Tomei meu café da manhã e me pus na fila do albergue. Na fila conheci Nellie uma francesa que fala português impecavelmente. Ela estava com uma lesão na perna o que a impossibilitou caminhar por dias. Por não ter sido acolhida em Sahagún ela decidiu vir a León.

Por volta das onze horas o albergue abriu. Depois da rotina de albergue (saco de dormir, banho, lavar roupas e organizar a mochila) era hora de almoçar e conhecer a cidade. Reencontrei Chin, Luciano e Vera. Almoçamos e fomos visitar a Catedral de León. A única que eu tinha interesse de visitar antes mesmo de eu sair do Brasil.

As igrejas católicas seculares, possuem dois e estilos comuns de construção. A construção romana, que possuem interior sem ou com pouca entrada de luz exterior. Ali a ideia de reclusão e penumbra é muito presente. Agora, nas igrejas góticas vem na contramão das romanas, trazendo muito luz para que a presença do divino fosse percebida no seu interior.

A catedral de León é de estilo gótico é o apogeu da ideia da presença do divino. Com vitrais de 30 metros de altura e mais 1 km de extensão é a igreja com maior quantidade de vitrais do mundo. No centro da fachada central os vitrais foram dispostos em forma de rosácea. Em determinadas épocas do ano, o ângulo do sol incide na Catedral de forma única, dando a sensação que Deus está lá no altar.

Achei engraçado que lembrei da música no dia mesmo dia que aprendi sobre a luz gótica. Dormi com feliz, com toda a luz que deixei entrar em meu coração naquele dia.

 

 

foto: O nascer do sol a caminho de León

bom dia

Bom dia

dia de visita

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