Na caminhada pelas Mesetas, eu inicialmente fiquei para trás de meus amigos. Na metade eu havia os ultrapassados, mas independente da posição nos distanciamos e caminhei muito sozinho. A decisão de fazer a parada em León no domingo me fez reencontrar muitos destes amigos. Um segundo grupo chegaria no segunda-feira. No domingo a noite decidi ficar pela cidade e reencontrar aqueles que chegavam.
Amigos do caminho.
De manhã levantei com calma, me despedi dos amigos que partiam e fui andar pela cidade, acompanhado de Nellie. Ela me apresentou uma das maravilhas do café da manhã espanhol que até então eu não havia saboreado. Os churros com chocolate. Visitamos alguns pontos turísticos, conversamos sobre as diferenças da Europa e da América. Perto do almoço retornamos para o albergue. Nellie para descansar e eu para pegar minha mochila e ir para um hotel. Eu merecia um dia sem uma sinfonia dos roncos internacionais.
Churros com chocolate
A tarde encontrei os amigos que chegaram a cidade e fomos beber um bom vinho. A conversa inicial quando peregrinos se encontram é saber como cada um está. Se pergunta do pé, dos joelhos enfim do corpo. Depois perguntamos das etapas em que estiveram. E ai vem as boas histórias. Por último se pergunta da etapa do dia seguinte. Depois disso a conversa, segue o rumo que convir. O vinho da tarde seguiu rumo a noite.
Na manhã seguinte acordei um pouco tarde. Por volta das sete e meia me coloquei no caminho. Encontrei o casal Piet e Nellie (essa é holandesa) e caminhei com eles até a chegada no vilarejo de La Virgem del Camino. Ali o caminho abre duas rotas. Optei pela rota alternativa que passa por Villar de Mazarife para chegar em Hospital de Órbigo, onde os caminhos se reencontram.
O trecho é um tanto monótono, através de fazendas e estradas de chão batido. No caminho até Villar encontrei um professor alemão de economia. Ele estava a um ano, realizando um sabático e o Caminho era o final desse período. Conversamos sobre o desemprego e o custo de vida europeu. Nós, nos despedimos em Villar.
De Villar a Hospital era cerca de 10 km. Eu já havia feito 15 km, quando cheguei a Villavante, que distava 8 km de Hospital, segundo meu guia. O receio de essa informação estar errado, me preocupava. O corpo pedia descanso. Decidi parar em Villavante debaixo de um sol a pino às duas da tarde.
Lembrei da citação de Alex Supertramp que em seu diário escreveu que a felicidade só é de verdade quando compartilhada, mas também de Picasso que dizia que “Não se pode fazer nada sem a solidão!” A beleza da jornada era aprender a compartilhar a felicidade junto aos outros, mas, ao mesmo tempo, ter a liberdade de estar só, para criar sua própria transformação.
Depois de dois dias entre amigos, estava sozinho na estrada novamente, porém, nunca só.