Notas breves sobre a Greve dos Caminhoneiros

27 de maio – Notas da greve

Hoje pela manhã sai de casa a pé para ir ao mercado e a feira. A ideia era fazer uma tomada de preços e ver o que estava em falta, além do combustível, e repor alguns itens de casa.

Na feira, metade das barracas não compareceram. As que lá estavam ou estavam vendendo com uma elevação de 30% a 50% do preço de uma semana atrás, ou estava vendendo produtos de baixa de qualidade, 50% mais barato, só para não descarta-los e ter mais prejuízo.

No mercado não observei nenhuma gondola sem produto e também não identifiquei nenhum preço abusivo nos itens essenciais. Havia até uma certa tranquilidade para fazer as compras, o que não é normal de domingo.

Porém foi quando eu sai do mercado que algo me surpreendeu. Na avenida uma carreata de cavalos e pequenos caminhões começava a passar, fazendo um buzinaço. Traziam as famílias na boleia que acenavam para as pessoas na rua. As pessoas das calçadas acenavam de volta.

Dos mais de 20 caminhões que vi passar, todos eles traziam duas faixas: “Por um Brasil melhor” e a segunda “INTERVENÇÃO MILITAR JÁ”.

Será que quando a borrachada do militar arder no lombo do caminhoneiro para que este volte a trabalhar calado, eles se arrependerão de terem evocado essa caixa de Pandora?


28 de maio – País dos espertos

Uns caminhoneiros lutavam por melhores condições de custo do seu trabalho, resolveram parar.

O caminhoneiros autônomos vendo que se aumentassem a massa poderiam se beneficiar resolveram aderir.

Algumas empresas vendo que isso as beneficiaria no custo dos combustíveis resolveram ajudar.

Os donos de postos de combustível vendo que não logo não teriam combustível, resolveram aumentar os preços.

O intermediários de alimentos vendo que muitos hortifrúti começariam faltar, trataram de elevar o preço.

O supermercado se aproveita da situação e aumenta os preços também, afinal a demanda por danoninho, vai provocar o desabastecimento.

O brasileiro médio que assisti televisão, bombardeado a semana toda pela cobertura da greve, resolveu estocar gasolina (mesmo ele só abastecendo com etanol até semana passada) e batatas e todos os alimentos possíveis.

O brasileiro letrado, só se preocupa com a Champions League e o ingressos da Copa do Mundo. Combustivel é problema do motorista do Uber e falta de alimentos do restaurante que ele almoça ou janta.

Os candidatos oportunistas tentam ganhar votos dos caminhoneiros.

O governo tenta ganhar na “negociação” com alguns sindicatos (que sabe-se lá se não são os patronais) e caso não consiga vai ver de que conta vai tirar para dar subsidio para a Petrobras.

Os militares, olham em regozijo a demonstração de carinho dos grevistas, que logo mais apanharam para saber o que significa ordem e progresso, afinal cidadão de bem não faz greve ele pelega.

O Brasil agoniza em meio a tantos espertos e otários, todos juntos e misturados ao mesmo tempo.


29 de maio – Brasil de fato não é para principiantes.

As pessoas se manifestaram em 2013 inicialmente insatisfeitas pelo aumento das passagens, rapidamente os mais diversos grupos sociais, buscaram dominar o discurso das ruas e todas as demandas saíram para as ruas.

Um ano depois as pessoas votam no arranjo politico que é uma “mistura do mal com atraso”, que nunca tivemos no Brasil. O resultado das eleições não foram satisfatórias para uma parcela da população. Vale lembrar que as paralisações de obras da Petrobras, começou nessa época, junto com a Lava Jato.

Em 2015 com os reflexos da Lava Jato nos empregos e na economia começaram a surgir, ou seja, o dinheiro para as férias em Orlando começaram a minguar, as pessoas começaram a sair com sua camiseta de 7×1 e sua panela para as ruas.

Os políticos oportunistas da vez aproveitaram e resolveram aceitar um processo de impeachment qualquer (sim, todos os presidentes possuem processos que normalmente são arquivados pelo presidente da Câmara dos Deputados).

Todo esse alvoroço bem ao estilo de novela, culminou na posse do vice em 2016. De lá para cá, a cada 4 meses surge um novo escândalo. Nesse período de 2016 para cá, o cara teve 2 processos de investigação arquivados, onde não houve manifestação ou paralisação nenhuma para isso, exceto a de 24 Maio de 2017, que foi dos movimentos sociais de esquerda. Alias, depois desse dia os militares cada vez mais tem tomado cargos no governo Temer.

Pois bem, agora maio de 2018, faltando 5 meses para uma nova eleição, e 7 meses para posse do novo governo, somente AGORA, resolvemos sair as ruas de novo, contra o governo e ainda por cima pedindo a Intervenção Militar, por que assim pelo menos ninguém vai ouvir o indigesto, “Você que votou neles”.

Enquanto isso ficamos atrás das soluções fáceis, o Brasil espera um povo que pare de ser criança e faça a sua parte.

Vlad

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Vlad
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