O caminhar e o meditar

meditar

Quando o caminhar se tornou minha forma de  meditar

O caminho desde Burgos até León é chamado de Mesetas. Formado de plantações até o fim do horizonte, raramente se encontra arvores ou moitas pelo caminho. Nesse trecho o caminho é fácil, pois, não se encontra elevações depois do Alto de Mostelares. Essa é uma etapa para recuperar o corpo.

Durante o Carnaval, antes do início do caminho, participei de um retiro. Foi no mosteiro zen budista, Morro da Vargem, que fica escondido em uma cadeia de montanhas, a uma hora de Vitória no Espirito Santo. Eu já tinha participado de alguns cursos de meditação, mas nenhum na linha zen ou outra atividade dessa filosofia.

Entre as longas sessões de meditação, o mestre Daiju explicava que a meditação ia além de simplesmente sentar na posição de lótus e permanecer imóvel. Era possível atingir o estado de meditação caminhando ou sentado no trem ou na cadeira de escritório. Segundo ele o que determina o estado meditativo não é a posição do corpo e sim a da mente.

No Caminho o corpo já não gritava de dor. Estava se habituando as longas caminhadas. Era o momento de começar a trabalhar a mente. Eu gosto de fazer longas caminhadas. Com facilidade, atinjo o estado de fluxo, nessas caminhadas. Isso me permite trabalhar e desenvolver ideias, como também tomar decisões difíceis e resolver problemas.

Na caminhada pelas Mesetas, o estado de fluxo me levou a outro estágio. Ali comecei a entrar no estado de meditação durante a caminhada, como mestre Daiju havia descrito. Em algumas caminhadas, notei que a mente começou a se silenciar e a minha percepção do agora se tornou muito intensa.

Comecei a prestar atenção aos detalhes e nuances que o caminho apresentava. As cores, cheiros e sons eram mais vividos, mesmo nessa rota um tanto monótona e repetitiva das Mesetas.

Nessa parte do caminho desapeguei do meu planejamento da rota diária. Eu simplesmente abandonei-o. Resolvi caminhar todos os dias das seis da manhã até às duas da tarde, fazendo tantas paradas quanto fossem necessárias, contanto que estas não fossem por pura preguiça.

Essa alteração me permitiu pernoitar nas cidades menos comuns do Caminho como Terradilhos, El Burgo Ranero, Villarete e Villavante. Não planejar o dia, me permitiu aproveitar o agora de cada momento de uma forma que eu não tinha vivenciado até então.

Silenciar a mente era a chave mestra daquela etapa. Era o segundo estágio de evolução que temos durante o Caminho. O primeiro era ouvir o corpo e o segundo silenciar a mente. Ambos, eram o preparativo para o próximo estágio, e para as surpresas que eu encontraria logo mais a frente no Caminho.

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Encontro

zazen

Zazen

Natureza Morta

Natureza Morta II

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