“Quando a gente abre os olhos, abrem-se as janelas do corpo, e o mundo aparece refletido dentro da gente.”
(Rubem Alves)
Já era por volta do meio-dia quando sai de Foncebadón, com a mochila nas costas e a mensagem no bolso. A próxima parada era na Cruz de Ferro, que estava ali por volta de 1,5 km. É na Cruz de Ferro, que segundo a tradição, os peregrinos depositam uma pedra que trazem de casa ou que encontram no Camino. Além da pedra, resolvi deixar também a mensagem.
Aquele era um momento importante do Caminho. É possível sentir a energia que emana da Cruz a quilômetros de distância. Confesso, que não estava preparado para o que viveria ao chegar lá.
A cada passo, a presença da energia aumentava. Lágrimas começaram a brotar e caiam como a chuva. Minhas pernas, pela primeira vez no Caminho, fraquejavam. Numa curva da trilha, avistei pela primeira vez a Cruz. Pensei que não conseguiria subir a sua base, tamanha era a emoção. Subi, após esperar alguns peregrinos e turistas tirarem fotos.
Ao terminar a subida, vivi minha epifania. Sem dúvida a maior experiência de minha vida. Ao colocar minha pedra naquele lugar, passei a ser aquela energia e a fazer parte dela. Eu era todos e todos eram eu. Eramos todos Um.
Havia, mais alguma coisa acontecendo naquele momento, mas não tinha ideia do que fosse. A experiência já estava tão intensa, que não acreditava que alguma outra coisa pudesse estar ocorrendo.
De repente, o tempo parou. O vento cessou. Os sons se extinguiram. As pessoas paralisaram. E então, eu vi. Ela tão pura e emanando um amor profundo. Eu, carregando todas as minhas imperfeições. Era minha alma, ali na minha frente. Eu havia entrado pela janela de minha alma, sem nem perceber.
O rio de lágrimas que descia por meu rosto, levava embora todos os medos, angústias, máscaras, preconceitos e limitações. Nesse instante descobri, quem verdadeiramente sou.
Viver essa experiência, foi libertador. No caminho já havia desapegado de tantos itens materiais, e a partir desse ponto o desapego começou a ser no coração e na mente. Desci a montanha mais leve.
Após a passagem pela Cruz de Ferro, pensei que o processo de transformação que o Caminho poderia me proporcionar havia acabado, mas estava enganado. Havia muito a se viver e transformar.
Uma pergunta que me ocorreu nesse dia foi: “Se tudo é Uno, não seria nossa alma, Deus?”. Confesso que depois do que vivi, não me preocupo em saber a resposta.
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